Índices das lesões do ombro dos atletas da Seleção Brasileira de Canoagem de Velocidade pré e pós Pan–Americano, Rio 2007
Shoulder injuries index of Brazilian speed canoeing national team athletes before and after Pan-Americano, Rio 2007
Bruno Lopes Rossetti1
Rodrigo Cezar Aguiar de Lorena2
Regina Cuatrin3
Marcos Alexandre dos Santos
1 Fisioterapeuta - Pós-Graduado Curso de Fisioterapia Músculo-Esquelética da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Pós-Graduado em Fisiologia do Exercício e Treinamento pela Universidade de São Paulo – USP, Professor do Colégio Brasília e Sequencial
2 Fisioterapeuta - Pós-Graduado em Fisioterapia Músculo-Esquelética - Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
3 Fisioterapeuta da Seleção Brasileira de Canoagem de Velocidade
Resumo
As incidências de lesões, aspectos biomecânicos e especificidades da canoagem de velocidade, Caiaque e canoa são pouco descrita na literatura nacional. Os objetivos deste estudo foram identificar esses índices aplicando-se escalas funcionais, como UCLA e Ombro Atlético e realizar um levantamento de lesões previas no período de preparação e correlacioná-las a aspectos posturais e dados da competição.
Palavras - chave: Lesões, canoagem, avaliação postural.
Abstract
Injuries incidence, biomechanical aspects and specificity of speed canoing, kayaking and canoeing are not commonly found in the National literature. The aims of this study was to identify this index by functional scales, like UCLA and Athletic Shoulder, to do a preview injuries selection during preparation period and correlate them to postural aspects and competition data.
Keywords: injuries, canoeing,
INTRODUÇÃO
A canoagem é uma atividade de esporte e lazer, onde o ato de remar, curiosamente, não é feito somente com a força dos braços, mas também com os movimentos do tórax e pernas. Sua primeira aparição nos Jogos Pan-americanos foi em 1967, chegando ao Brasil em 1978, contabilizando um número crescente de praticantes, estimado hoje em cerca de 100 mil 1,2. As competições de canoagem são realizadas em águas calmas em raias demarcadas para nove embarcações, podendo ser individual (K1) e (C1), dupla (K2) e (C2) e quarteto (K4) e (C4), disputadas em um raio de 500m a 1000m3,4,5.
O gesto de remar é inerente e ancestral dos seres humanos, possuindo variações de práticas culturais importantes, sendo a remada para frente o movimento mais comum realizado com o remo na canoagem, iniciando com a pá inteira dentro da água e terminando ao lado do corpo, ocorrendo o deslocamento anterior do barco, e dividida em quatro movimentos: Entrada: o remo passa aproximadamente 50 cm da superfície da água, tendendo a posição horizontal, devendo ser realizada de forma mais alongada possível; Puxada: o remo tende a angular de paralelo a perpendicular à água, denominada fase de impulsão do barco; Saída: acontece quando a pá do remo, passa da linha do ombro do praticante; Recuperação, conhecida como fase aérea 6, 7, 8, 9, 10,11.
Os músculos envolvidos na remada de frente são: bíceps braquial, braquial, braquiorradial, flexores superficiais e profundos dos dedos, flexores ulnar e radial do carpo, extensores do punho, tríceps braquial e deltóide12. Uma das características fundamentais do complexo articular é sua mobilidade em várias dimensões, caracterizada pelo maior grau de liberdade do corpo humano, possibilitada pelo côncavo e convexo dos ossos que se articulam13,14,15, sendo assim o ombro sofre freqüente lesões nos esportes competitivos, devido ao movimento rotacional da articulação glenoumeral, podendo ser divididos em atraumáticos (movimentos repetitivos) e traumáticos (trauma direto)12.
Na canoagem as sobrecargas musculares dinâmica do ombro resultam em distúrbios osteomusculares, tendinosos e articulares denominados Doenças Ocupacionais Relacionados ao Trabalho (DORT), devido aos movimentos repetidos durante o treinamento 16.
Devido à escassez de informação sobre o assunto e o aumento de adeptos ao esporte, o presente estudo tem como objetivo evidenciar as lesões pré e pós Pan Americano Rio 2007, nos atletas da Seleção Brasileira de Canoagem.
Materiais e Métodos
Foram avaliados 16 atletas do sexo masculino, com faixa etária de 18 a 33 anos, que tenham competido para atingir o índice classificatório para os Jogos Pan-americano Rio 2007, categoria sênior e em fase de treinamento para a competição entre os meses de janeiro a maio de 2007. Foram excluídos atletas que não obtiveram o índice classificatório para o pan-americano, indivíduos com lesões prévias de ombro, os que interromperam o período de treinamento.
Com o objetivo de investigar lesões prévias foi realizado um levantamento no setor de fisioterapia do Centro de reabilitação em ortopedia esportiva (CROE), dos atletas que realizaram terapia e quais os possíveis diagnósticos, levando-se em consideração o período de dois meses antes da competição,
Para avaliação dos atletas foram utilizadas a escala de avaliação de função e dor no ombro da Universidade da Califórnia de Los Angeles – UCLA, que avaliou dor, função, ADM (elevação ativa), força muscular (elevação: teste manual) e satisfação do atleta, e a escala de graduação de resultado do ombro atlético – American Academy of Orthopedic Surgeons - AAOS, que avaliou, nível de atividade, possível diagnóstico, dor, força e resistência muscular, estabilidade, intensidade, desempenho, amplitude de movimento. Essas escalas foram aplicadas uma semana antes e uma semana depois dos jogos Pan Americanos no CROE – Centro de Reabilitação em Ortopedia e Esportiva.
A avaliação postural dos atletas foi realizada por meio de fotos registradas no início da avaliação (equipamento - Samsung – didimax A 503), onde os atletas trajaram sunga, sendo fotografados nos planos frontal e sagital.
Esses procedimentos compuseram a representação de gráficos comparativos e tabelas.
RESULTADOS
Da amostra de 16 atletas somente 9 foram adicionados ao trabalho, pois 7 atletas não obtiveram o índice para participação dos jogos pan-americanos, encaixando-se no critério de exclusão da pesquisa.
Tabela 1 – Dados Biométricos dos atletas (Fonte: Pesquisador)
N (avaliados) |
Peso (kg) |
Altura (m) |
Idade |
Atleta 1 |
72 |
1,73 |
19 |
Atleta 2 |
76 |
1,85 |
29 |
Atleta 3 |
85 |
1,83 |
33 |
Atleta 4 |
72 |
1,7 |
25 |
Atleta 5 |
82 |
1,83 |
22 |
Atleta 6 |
70 |
1,72 |
21 |
Atleta 7 |
85 |
1,83 |
24 |
Atleta 8 |
78 |
1,78 |
22 |
Atleta 9 |
77 |
1,73 |
19 |
Média |
77 |
1,78 |
24 |
Na competição 67% eram atletas do caiaque e 33% da canoa (anexo 2 – Fig.1). Verificamos a prática esportiva em relação à modalidade e ao percurso individual dos atletas: no Caiaque 33% praticaram apenas K2 1000m, 33% praticaram K2 500m e K4 1000m, 17% praticaram K1 500 e K4 1000m, 17% praticaram K1 1000m e K4 1000m (Anexo 2 - Fig. 2). Na canoa 33% praticaram C1 500m e C1 1000m e 67% praticaram C2 500 e C2 1000m, ressaltando que apenas um atleta participou em percursos mais extenso, 1000m, em duas modalidades na mesma competição (Anexo 2 – Fig.3).
Comparando os resultados da escala UCLA pré e pós pan-americanos foi constatado que não houve diferença significativa dos resultados (Anexo 3 – Fig.4 e Fig. 5).
Tabela 2 - Comparação Escala UCLA – pré e pós Pan-americano
|
Pré Pan-americano |
Pós Pan-americano |
Média |
34,11 |
34,11 |
Desvio médio |
1,38 |
0,99 |
Desvio padrão |
2,03 |
1,05 |
Comparando as escalas de graduação de resultados do ombro atlético, pré e pós pan-americano, não foi constatado diferença significativa dos resultados (Anexo 4 – Fig.6 e Fig.7)
Tabela 3 - Comparação Escala de graduação de resultado do ombro atlético
|
O levantamento relativo à incidência de lesões prévias num período de 2 meses pré Pan-americano demonstrou maior ocorrência de tendinite nos atletas (31,25%), seguida de lesões de punho (18,75%), observando que 18,25% dos atletas não apresentaram lesões ( Anexo 5 – Fig.8).
Com a avaliação postural dos atletas observou-se maior incidência de cifose torácica (24,49%) seguida de elevação de ombro (20,41%), abdução de escapula (18,37%), anteriorização do ombro e cabeça (8,16%), o que evidencia uma predisposição a lesões pelos movimentos repetitivos a pratica esportiva (Anexo 5 – Fig. 9).
DISCUSSÃO
O conhecimento da biomecânica muitas das vezes justifica o tipo de lesão apresentada pelo atleta, no caso da canoagem a articulação glenoumeral e as posturas adotadas durante a pratica da atividade.
Segundo Ejnisman, 2001, o principal sintoma referido por 72,2% de sua amostra foi dor em região anterior do ombro secundária a instabilidade. Em nosso trabalho apenas 6,2% apresentaram dor em ombro durante os períodos pré e pós competição.
Para Cohen, 2005 as lesões mais comum ocorrem em antebraço, ombro, coluna, pelve e miscelânea. Porém no período de treinamento dos atletas para os jogos Pan Americanos observou uma maior predisposição à lesão tendinosa de punho e mão seguida por ausência de lesões, lesão do manguito rotador, dor no ombro, lombalgia e luxação do ombro.
CONCLUSÃO
Conclui se que foi elevado o índice de lesões na canoagem de alto rendimento em seu período de preparação para uma competição de expressão significativa, onde no período pós pan-americano não foram constatados relatos de lesões nas escalas, apenas um aumento de dor, o que pode demonstrar que a freqüência de treinamentos e os treinos preventivos tenham grande ênfase nesses aspectos podendo estar correlacionadas com as alterações posturais encontradas na avaliação, já que houve a ocorrência em todos os atletas estudados.
No Brasil apesar dos bons resultados obtidos em competições nacionais e internacionais, a canoagem é um esporte pouco difundido, havendo necessidade de mais estudos devido à escassez na literatura.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1- Disponível em: https://www.suapesquisa.com/panamericanos/historia_dos_jogos.htm. Acesso em: 02/12/2007.
2- Disponível em https://www.fpca.esp.br/. Acesso em: 05/12/2007.
3- FEUILLETTE, A.; LUTZ, J. Canoa e caiaque em 10 lições. 1. ed. Publicações Europa – Americana.
4- CALDAS, C.; MOTTA, C. COB 99 O Brasil em Winnipeg. Rio de Janeiro:Textual, 1999. p. 10, 11, 64, 65, 68, 88, 89.
5- Disponível em: https://www.oriodejaneiro.com/panhistoria.htm. Acesso em: 05/12/2007.
6- IMBRIACO, P. J. Canoando. Estrela, 2001. Disponível em: https://www.cbca.org.br/ canoando/velocidade.html. Acesso em: 06/06/2007.
7- HILSDORF, V.L. Manual do canoísta de fim de semana: o emprego de caiaques e canoas no lazer, ecologia e aventura. Santos: L. V. Hilsdorf, 1999.
8- ROBBA E. A canoagem. São Paulo, 2000. Disponível em https://www.megatrip.com.br/esp_canoagem.asp. Acesso em: 06/06/2007.
9- FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira S/A, 1986.
10- LANCELLOTTI, S. Olimpíadas 100 anos: história completa dos jogos. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
11- FARINATTI, P. T. V.; MONTEIRO, W. D. Fisiologia e avaliação funcional. Coleção Fitness, 1: pág. 193-273. Rio de Janeiro. Sprint, 1992.
12- BEHM, D. G. and D. G. Sale. Intended rather than actual movement velocity determines velocity-specific training response. Journal of Applied Physiology. 74(1):359-368, 1993.
13- Andreasson, G. and L. Peterson. Effects of shoe and surface characteristics on lower limb injuries in sports. International Journal of Sports Biomechanics. 6(2):02-20, 1986.
14- KENDALL P. F, Mc Creary R. E. Músculos provas e funções com postura e dor. São Paulo: Manole 1995.
15- Magee, DJ. Avaliação Músculo esquelético.São Paulo: Manole; 3ª ed; 2002.
16- Armstrong, D. F. Power training: The key to athletic success. National Strength and Conditioning Association Journal. 15()):-1, 1993. Atha, J. Strengthening muscle. Exercise and Sport Science Reviews. 15(9):1-74, 1981.
ANEXO 2
ESCALA DE AVALIAÇÃO DA DOR NO OMBRO
UNIVERSIDADE DA CALIFORNIA DE LOS ANGELES (UCLA)
DOR
Presente o tempo todo e insuportável: medicação potente freqüente |
01 |
Presente o tempo todo e suportável: medicação potente ocasional |
02 |
Nenhuma ou pouca dor em repouso, piora nas atividades; AINH freqüente |
04 |
Presente apenas em atividades pesadas ou especificas; AINH ocasional |
06 |
Dor ocasional e leve |
08 |
Nenhuma dor |
10 |
FUNÇÃO
Incapaz de usar o membro |
01 |
Realiza somente algumas atividades leves |
02 |
Capaz de fazer leves trabalhos domésticos e a maioria das AVD |
04 |
Realiza maioria das AVD, dirigir, pentear se, vestir se e colocar sutiã |
06 |
Pequenas restrições, capaz de realizar trabalhos acima do nível do ombro |
08 |
Realiza as atividades Normalmente |
10 |
ADM (Elevação Ativa)
150º ou mais |
05 |
De 120º à 140º |
04 |
De 90º à 120º |
03 |
De 45º à 90º |
02 |
De 30º à 45º |
01 |
Menos de 30º |
0 |
FORÇA MUSCULAR (Elevação – Teste Manual)
GRAU 5 – Normal |
05 |
GRAU 4 – Bom |
04 |
GRAU 3 – Regular |
03 |
GRAU 2 - Ruim |
02 |
GRAU 1 - Contração Muscular |
01 |
GRAU 0 - Sem Contração Muscular |
0 |
SATISFAÇÃO DO PACIENTE
Satisfeito – Melhor |
05 |
Insatisfeito – Pior |
0 |
Total ______ Pontos Pontuação Máxima 35 pontos
ANEXO 3
Escala de Graduação de Resultado do Ombro Atlético
Nome:_______________________ Idade____ Sexo_____
Mão Dominante(D)___(E)___ Ambidestro____
Data do Exame _________ Posição do Jogo ____________
Cirurgião ______________ Há quanto tempo joga ________
Tipo de Esporte _________ Lesão Precedente__________
Nível de Atividade
1) Profissional (liga principal)
2) Profissional (liga Secundaria)
3) Universidade
4) Colégio
5) Recreacional (tempo Integral)
6) Recreacional (ocasional)
Diagnostico
1) Instabilidade Anterior
2) Instabilidade Posterior
3)Instabilidade Multidirecional
4)Luxações Recorrentes
5)Síndrome do Impacto
6)Separação Acromioclavicular
7) Artrose AC
8) Reparação Manguito (parcial)
9) Ruptura Manguito (completa)
10) Ruptura Tendão Bíceps
11)Tendinite Calcaria
12) Fratura
Subjetivo (90 pontos)
DOR |
Pontos |
Sem dor com competição |
10 |
Dor somente após competição |
8 |
Dor durante a competição |
6 |
Dor que impede competir |
4 |
Dor com AVD |
2 |
Dor em repouso |
0 |
FORÇA MUSCULAR |
|
Sem fraqueza, fadiga normal de competição |
10 |
Fraqueza após competição, fadiga precoce na competição |
8 |
Fraqueza durante a competição, fadiga anormal na competição |
6 |
Fraqueza ou fadiga impedindo a competição |
4 |
Fraqueza ou fadiga na AVD |
2 |
Fraqueza ou fadiga impedindo as AVD |
0 |
ESTABILIDADE |
|
Sem frouxidão durante a competição |
10 |
Subluxações recorrentes enquanto competindo |
8 |
Síndrome do braço morto enquanto competindo |
6 |
Subluxações recorrentes impedindo competição |
4 |
Subluxações recorrentes durante as AVD |
2 |
Luxações |
0 |
Intensidade |
Pontos |
Horas de competição pré lesão versus pós lesão (100%) |
10 |
Horas de competição pré lesão versus pós lesão (75%) |
8 |
Horas de competição pré lesão versus pós lesão (50%) |
6 |
Horas de competição pré lesão versus pós lesão (25%) |
4 |
Horas de AVD pré lesão versus pós lesão (100%) |
2 |
Horas de AVD pré lesão versus pós lesão (50%) |
0 |
Desempenho |
|
No mesmo nível, mesma proficiência |
50 |
No mesmo nível, proficiência diminuída |
40 |
No mesmo nível, proficiência diminuída inaceitável ao atleta |
30 |
Nível diminuído, com proficiência aceitável nesse nível |
20 |
Nível diminuído, proficiência inaceitável |
10 |
Não pode competir, teve que mudar de esporte |
0 |
Objetivo (10 pontos)
AMPLITUDE DE MOVIMENTO |
Pontos |
Rotação externa normal em posição 90º-90º; elevação normal |
10 |
Menos de 5º de perda de rotação externa; elevação normal |
8 |
Menos de 10º de perda de rotação externa; elevação normal |
6 |
Menos de 15º de perda de rotação externa; elevação normal |
4 |
Menos de 20º de perda de rotação externa; elevação normal |
2 |
Mais de 20º de perda de rotação externa, ou qualquer perda de elevação |
0 |
Resultados Globais
EXCELENTE: 90 – 100 pontos
BOM: 70 – 89 pontos
REGULAR: 50 – 69 pontos
FRACO: Menos de 50 pontos
Tabela de graduação do ombro esportivo. (De Tibone, J.E. e J.P. Bradley: Evaluation of treatment outcomes for the athlete´s shoulder. In Matsen F.A. F.H.Fu e R.J. Hawkins Jeds. I: The Shoulder: A mobility and Stability. Rosemont, illinois, American Academy of Orthopedic Surgeons, 1993.pp.
ANEXO 4
ANEXO 5
ANEXO 6
ANEXO 7